Minha rua tem cerejeiras
terça-feira, 28 de abril de 2009
Querida Rua
Minha rua tem cerejeiras
Quer ser feliz? Pergunte-me como.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A portuguesa e o caso da cobra intrometida
Tentamos a todo custo fazer cara de super simpáticas e nos portarmos como boas moças (o que realmente somos). Sentamos na sala escura do apartamento vazio para conversar com a nossa candidata à senhoria. Para não termos que responder sobre nós, adotamos como estratégia entrevistar a senhora. Péssima estratégia! Perguntamos sobre as terras de além mar, e nossa entrevistada soltou uma frase de efeito: "é uma terra de muitos milagres". A senhora, de repente, se transformou em uma legítima representante da igreja luso-católica. Começou a relatar milagres e graças feitos pelas 39.657 Nossas Senhoras de Portugal. Me perdoem pela ignorância, mas para mim Nossa Senhora era só a mãe de Jesus com um manto azul.
Devo ser honesta e dizer que mais da metade da fala da querida carola eu não consegui compreender. Entretanto, a linguagem verbal foi substituída pela bela encenação dos fatos. Dentre tantos milagres, um me chamou muita atenção: o de Nossa Senhora da Lapa.
Há algumas décadas, uma jovem mãe amamentava seu filho durante a noite em uma pequena cidade rural lusitana. Quando sem que ela percebesse uma cobra, atraída pelo cheiro do leite (informação relevante: cobras adoram leite humano) entrou pela vagina da mulher. E lá o bicho ficou. No dia seguinte, a moça mão conseguia se mexer, mas já por milagre seu fígado continuava intacto (informação relevante: o fígado costuma ser o primeiro órgão que as cobras comem quando entram nas pessoas - e eu que nem sabia que cobras entravam nas pessoas, pelo menos, não no sentido literal). Ao ver seu sofrimento, a família da jovem a levou à igreja de Nossa Senhora da Lapa. Ao subir no altar, uma surpresa. A mulher vomitou a cobra que saiu em disparada e desapareceu na multidão.
Ouvi aquilo tudo incrédula e ao mesmo tempo encantada. Era muito surreal. Ainda tentei questionar alguns pontos. "Seria a cobra um verme?" Não sei porque eu fiz isso. Para que querer achar algo de verossimilhança externa em uma história que é feita para parecer irreal mesmo? Afinal, milagres não são fatos rotineiros. Me convenci e me aquetei com a resposta da senhora: "pois eu lá estava. Juro pelo meia-dúzia-de-palavras-que-não-entendi na terra e nosso Senhor Jesus Cristo no Céu". Ela disse que estava lá, eu não estava. Então, quem sou eu para duvidar se até aquele momento ignorava a existência da Nossa Senhora da Lapa? E para falar a verdade, o que vale mesmo não é o fato e sim a narrativa.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Não sabe o que quer? Deixe que o Google te diga!
Desde que eu comecei a escrever aqui, fiquei meio tentada a entrar nessa história de gerar receita e ter links patrocinados. Só que olhando bem, esse negócio é a maior invasão de privacidade que existe. Eu não faço parte do grupo dos apocalípticos, tenho até uma visão bem romântica sobre a Internet. Só que o Google está indo longe demais, entrou numa onda de ser Freud e tentar descobrir quais são os nossos desejos mais íntimos. Em um programa muito complexo de cruzamento de dados, o Grande Deus Virtual começa a nos interpretar. Ele nada esquece e tudo vê. Todas as nossas conversas, nossos passos – até aqueles dados por descuido, um site digitado errado como se fosse um ato falho – Ele grava. E acredite, no momento, propício Ele usará contra você.
Sinto dizer ao Senhor Google, a mente humana é muito mais complexa do que qualquer programa de computador. Por mais que sejamos parecidos e coisas parecidas aconteçam com todos nós, somos tão diferentes que cada caso é um caso inédito de verdade. Outro dia, por exemplo, estava fazendo confidências sobre minha vida afetiva a algumas amigas pelo Gmail (uma espécie de correio direto com o Grande Senhor que tudo vê). Quando olho para os lados, o que vejo? Uma chuva de links patrocinados de sites de relacionamento me oferecendo homens perfeitos, namoros sérios! Tinha um que, no melhor estilo Organizações Tabajaras, me questionava se eu já estava cansada de ficar sozinha.
Eu fiquei imaginando, por alguns segundos, um monte de Lumpa-lumpas, que ficam dentro do computador lendo as minhas mensagens, falando entre si: “ih, essa daí levou um pé na bunda. Deve estar louca para arrumar um homem”. Tenho uma coisa a dizer a esses fofoqueiros virtuais: eu não estou encalhada não, viu!! Quem foi que disse que eu sou sozinha para já estar cansada de ficar sozinha? E tenho mais a dizer, eu sou tão ótima companhia que até sozinha eu estou muito bem. É impressionante, a pessoa não pode ficar nem um dia sem namorado que o povo já acha que tem que arranjar logo outro. Será que eu não tenho direito de curtir uma leve dor de cotovelo em paz? Tudo tem limite, hein... Daqui a pouco o Google vai anunciar “Trago a pessoa amada em três dias com espaço ilimitado e um sistema de busca incomparável que ainda vai adivinhar tudo o que você deseja”! (Até que não seria tão má ideia)...
domingo, 19 de abril de 2009
Os astros não mentem se você não mentir
Ainda tem outro ponto. Se as palavras têm poder, a interpretação tem muito mais. As palavras que descrevem a minha sorte do dia são apenas a materialização dos meus desejos. Aí fica perfeito, tudo se encaixa: “não é que os astros disseram exatamente como eu estou me sentindo”.
Outro dia, meu horóscopo – essa entidade superior formada em jornalismo – disse para eu começar a perceber meu corpo e tomar cuidado com a alimentação ou sofreria as consequências. Achei um pouco demais e comecei a pensar até onde vai a criatividade dos publicitários. Sim, porque aquilo só podia ser patrocínio de alguma indústria de papel higiênico. Resolvi desafiar os astros. Comi batata-frita cheia de queijo, um sanduíche de rosbife cretino e uma bela caipirinha de maracujá com hortelã. Descobri: os astros não mentem jamais!
Entretanto, comecei a ficar preocupada mesmo com essa minha leve fixação quando passei a ler o horóscopo dos outros também. Uma coisa é ler e interpretar para sua vida com os seus sentimentos; outra é ler e interpretar a vida do outro com os sentimentos do outro a partir da sua vida e dos seus sentimentos. Meio confuso, né?... pois é assim mesmo que eu ando me sentindo. Mas o que eu posso fazer se eu não consigo saber o que se passa dentro do outro, se eu não posso perguntar e se eu perguntar, quem me garante que é verdade? Minha melhor resposta no momento é: o Horóscopo.
Já me disseram que de nada adianta o horóscopo dizer o que está se passando com você, se ele não mostra o caminho, não dá a solução. É um ponto a se pensar, mas não ando muito preocupada com isso no momento. Por agora, só quero um cúmplice, alguém que saiba como eu realmente me sinto, uma entidade que de tão longe está tão perto, algo que por ser tão eu é tão transcendente. Alguém que me diga que isso tudo vai passar logo...