Há alguns anos, ganhei de alguns amigos um livro de autoajuda. Na hora fiz cara feia, não só pela mensagem clara de que eles achavam que eu tinha sérios problemas, como a mensagem subliminar de que eu preciso de alguém que me diga o que fazer com a minha vida. Mas ao olhar com mais cuidado a capa, vi que tinha em mãos uma relíquia da literatura contemporânea e que deveria guardá-la como prova, porque contando ninguém acredita. "Esperando o amor chegar", sim um best-seller, da mesma autora de "Enquanto o amor não vem"!!! Nunca consegui abrir o livro, não sei nem se tem alguma coisa escrita. E desde que eu ganhei já vi o amor chegar; o amor ir embora; o amor me dar um bolo; o amor fazer uma visitinha rápida... Engraçado é que ele vive mudando de aparência...
Essa semana, eu estava trabalhando em uma pauta sobre depressão pós-parto com a RedeTV. A repórter - que é uma fofa - me questionou qual era o tratamento indicado pela psicóloga. Encaminhei a pergunta à especialista que me respondeu: "análise, falar sobre o problema". Me contentei, mas a repórter não. Ela precisava de dicas, de um passo-a-passo, de uma fórmula. Só análise, só falar do problema não serve. As pessoas precisam de outras pessoas que digam o que elas têm que fazer. Não há espaços para questionamentos. Tem que vir em comprimidos de preferência coloridos e gostosinhos.
Isso tudo é muito paradoxal. Vivemos em uma época em que se fala tanto de desfragmentação do indivíduo, das múltiplas identidades, da cauda longa. Ao mesmo tempo, as pessoas são fissuradas nessas coisas de 10 passos para o sucesso, O Segredo, O Monge e o Executivo, Dicas de Gestão. Fórmulas receitadas por criaturas que com certeza devem ter problemas de indentidade sérios, porque esses têm obrigação de serem felizes mais do que ninguém. Aliás, posso garantir a vocês que muitos nunca nem se leram. E eu duvido que algum deles realmente saiba sobre o que está escrevendo.
Felicidade, minha amiga às vezes um pouco distante, pode ficar tranquila que eu não acho que você seja um remédio, um produto. Não quero te prender ou consumir a qualquer custo. Pode vir, pode se abrir, só quero saber quem você é...
2 comentários:
Hahahaha. Notei a cutucada!
Beijosss
Senhorita senhorita... ja de olhar a foto do livro imaginei o que vinha... hahaha nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi vc falando dessa obra-prima!!!! cara, estamos mto conectadas!!! rsrs vc tinha que ta aqui ou eu ai ou sei la... mas praticamente vomitei pra minha mae ontem o inicio do teu post... "td mundo sabe o que eu tenho que fazer pra ser feliz"... incrivel quantas formulas e conselhos podem chover de uma hora pra outra e td mundo eh tao certo do futuro que eu me pergunto se as bolas de cristal tavam em liquidacao e eu perdi... "vai passar, vc vai ver", "amanha vc ja esta outra", "daqui ha 5 anos (!!!) vc vai rir disso tudo"... nem se eu fosse sadomaso ou tivesse um gosto mto funebre por humor negro, mas enfim... saudade... demais... continue escrevendo... adoooooooro!!!!
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