quarta-feira, 22 de abril de 2009

A portuguesa e o caso da cobra intrometida

Tudo bem, eu assumo que não sou uma pessoa lá muito normal, mas a minha maior loucura é atrair pessoas mais esquisitas do que eu. Ontem, fui procurar um apartamento para alugar com uma amiga. Fomos recebidas pela proprietária. Uma senhora portuguesa, de uns 70 anos, 50 vividos no Brasil e com um sotaque de quem acaba de desembarcar. Não preciso nem dizer que ela não gostou nada da ideia de alugar seu imóvel para duas jovens senhoritas.

Tentamos a todo custo fazer cara de super simpáticas e nos portarmos como boas moças (o que realmente somos). Sentamos na sala escura do apartamento vazio para conversar com a nossa candidata à senhoria. Para não termos que responder sobre nós, adotamos como estratégia entrevistar a senhora. Péssima estratégia! Perguntamos sobre as terras de além mar, e nossa entrevistada soltou uma frase de efeito: "é uma terra de muitos milagres". A senhora, de repente, se transformou em uma legítima representante da igreja luso-católica. Começou a relatar milagres e graças feitos pelas 39.657 Nossas Senhoras de Portugal. Me perdoem pela ignorância, mas para mim Nossa Senhora era só a mãe de Jesus com um manto azul.

Devo ser honesta e dizer que mais da metade da fala da querida carola eu não consegui compreender. Entretanto, a linguagem verbal foi substituída pela bela encenação dos fatos. Dentre tantos milagres, um me chamou muita atenção: o de Nossa Senhora da Lapa.

Há algumas décadas, uma jovem mãe amamentava seu filho durante a noite em uma pequena cidade rural lusitana. Quando sem que ela percebesse uma cobra, atraída pelo cheiro do leite (informação relevante: cobras adoram leite humano) entrou pela vagina da mulher. E lá o bicho ficou. No dia seguinte, a moça mão conseguia se mexer, mas já por milagre seu fígado continuava intacto (informação relevante: o fígado costuma ser o primeiro órgão que as cobras comem quando entram nas pessoas - e eu que nem sabia que cobras entravam nas pessoas, pelo menos, não no sentido literal). Ao ver seu sofrimento, a família da jovem a levou à igreja de Nossa Senhora da Lapa. Ao subir no altar, uma surpresa. A mulher vomitou a cobra que saiu em disparada e desapareceu na multidão.

Ouvi aquilo tudo incrédula e ao mesmo tempo encantada. Era muito surreal. Ainda tentei questionar alguns pontos. "Seria a cobra um verme?" Não sei porque eu fiz isso. Para que querer achar algo de verossimilhança externa em uma história que é feita para parecer irreal mesmo? Afinal, milagres não são fatos rotineiros. Me convenci e me aquetei com a resposta da senhora: "pois eu lá estava. Juro pelo meia-dúzia-de-palavras-que-não-entendi na terra e nosso Senhor Jesus Cristo no Céu". Ela disse que estava lá, eu não estava. Então, quem sou eu para duvidar se até aquele momento ignorava a existência da Nossa Senhora da Lapa? E para falar a verdade, o que vale mesmo não é o fato e sim a narrativa.

Um comentário:

Bárbara Bono disse...

Só vc Beta! Surreal e divertidíssimo!!!!!!!!!